segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Impressionante relato de uma advogada friburguense resgatada no desabamento do Rio de Janeiro

Depois de um breve intervalo, a turma de pós-graduação em Direito Constitucional da Uerj retornava para a sala de aula na quarta-feira, 25 de janeiro, quando tudo aconteceu. O curso em questão funcionava no 23º andar do Edifício Capital, que ficava ao lado dos prédios que ruíram no Centro do Rio. Uma das alunas era a jovem advogada friburguense, Ivy Manes, que passou mais de duas horas no teto do edifício e foi resgatada pelos bombeiros. Ivy é filha de um casal bastante conhecido na cidade, Rosilene e Angelo Manes e durante anos integrou a equipe de natação da escola Pulo N’Água. 
Ivy relatou o que aconteceu e o que sentiu durante os momentos dramáticos vividos por ela, seus colegas e demais pessoas que estavam no edifício. “As luzes da sala de aula piscaram e, logo em seguida, o prédio começou a tremer. Momentos depois, a luz acabou de vez e a gente ouviu um barulho tremendo”, conta. 
Sua primeira reação e a de todo mundo foi correr. Uma pessoa ainda olhou pela janela e já não dava para ver mais nada, pois as imediações do prédio estavam cobertas de poeira. Desceram correndo pela escada e, como o prédio estava às escuras, guiando-se apenas com a iluminação dos celulares. À medida que iam descendo, encontravam outras pessoas tomadas pelo desespero. 
Quando chegou no décimo andar, Ivy se deparou com uma luz e viu um buraco enorme na parede, em meio a muitos escombros. “Neste momento, vi que não dava para passar e resolvi voltar. A única saída seria sair pelo teto do prédio. Sem pensar em nada, guiada apenas pela intuição, Ivy deu meia volta e começou a subir de novo andar por andar, sendo seguida pelos demais. Nesta altura, diz, o grupo era composto por cerca de 30 pessoas, entre as quais, 20 colegas de curso. 
Ao chegarem no último andar, ainda tiveram que quebrar um vidro e subir mais quatro degraus para ter acesso ao terraço. E lá ficaram, durante umas duas horas que mais pareceram uma eternidade, acenando com os celulares na mão. Neste período, não sabiam muito bem o que estava acontecendo, pois o terraço era cercado por um muro alto. Só ouviam o barulho e se comunicavam com os parentes pelos celulares, sendo, inclusive, tranquilizados pelos bombeiros, avisando que logo seriam resgatados. Ivy ligou várias vezes para a mãe, dizendo que estava bem, pois sabia que naquela hora, ela já teria tomado conhecimento do ocorrido e devia estar apavorada. Como sempre acontece nestas horas, também houve uma manifestação muito grande de solidariedade, lembra Ivy, com todos procurando se acalmar e se apoiar mutuamente.
Conta também que sentiu um cheiro muito forte de queimado e de gás, mas só quando procurou sair pela escada, nos andares mais baixos. No entanto, pelo barulho que ouviam, “parecia um terremoto”. 
Até que o anjo da guarda chegou, na figura de um bombeiro que conduziu todos os que estavam no telhado, um a um, por uma ponte de emergência, “estreitíssima”, até um prédio ao lado. Agora, imaginem passar por esta tal ponte numa altura de 23 andares. 
“A gente pensa que estas coisas nunca vão acontecer com a gente até que acontecem”, diz Ivy. Naturalmente, ela só respirou aliviada quando pisou no outro prédio, mas o episódio serviu para demonstrar que ela é forte à beça. “Fiquei muito chocada, mas alguns amigos me levaram em casa. Fiquei com uma sensação horrível no estômago, mas tomei um remedinho e fui dormir. Acordei muito cedo e ainda estou assim, atônita com tudo”.

(A Voz da Serra)



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